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Okaeri-nasai! Semanalmente publicado cada capítulo. No lado direito se encontra a relação dos capítulos, lembrando que o da página inicial é o último postado. Be my guest and enjoy it!


Aina simplesmente não entendia. Logo num dia suposto a acontecer boas coisas, seu chefe já lhe pede um café... e um forte, para piorar a situação. Allan só lhe pedia café quando a situação era complicada, mas nunca lhe pedira um que fosse forte. Certamente telefonemas anônimos já eram comuns, mas nunca houve uma ligação que não pudesse ter seu número informado. Enquanto raciocinava, já preparava o café enquanto a água começava a ferver. Os contatos de Allan com a polícia especializada neste tipo de serviço lhe garantiam tais regalias. E sua secretária certamente confiava muito na tecnologia para aceitar essa situação.

- Aqui! – A secretária já lhe entregava em mãos o café.

- Como sempre, a solução dos meus problemas! – Allan gentilmente elogiava sua parceira depois de um bom gole.

O detetive sempre gostou do café de sua secretária. A relação dos dois se tornou muito íntima com o passar dos anos. Há muito Aina deixara de ser seu braço direito e passara a ser sua parceira, mesmo que não houvesse um relacionamento conjugal. Ambos não queriam este tipo de vínculo. Não naquele momento – nem entre eles, nem com ninguém. Depois de um momento de reflexão, o Allan finalmente pôs-se a falar sobre a ligação:

- Fui solicitado a um serviço confidencial. Não recebi informações sobre o que fazer pelo telefone. A pessoa simplesmente me pediu que verificasse um depósito exorbitante em minha conta bancária do Populis Bankstreet, bem como meu e-mail pessoal, dizendo que lá haveria instruções.

- Mas você não divulgou seu e-mail pessoal... nem tampouco informou uma conta bancária no Bankstreet a ninguém! – A secretária se preocupou.

- Não seria esse o grande problema. Retirar esse tipo de informação não é complicado nos dias de hoje. Até mesmo pelo fato de que alguns dos meus antigos clientes de maior confiança a tinham, mesmo que as cobrasse em dinheiro. Não seria impossível eu ser indicado às pessoas por outros serviços meus... Eu não teria essas contas sem considerar tais possibilidades... por isso sempre mantive sigilo para verificar até onde as informações poderiam vazar... uma conta bancária e de e-mail que serviam como armadilhas.

- Então qual é o problema? – Aina parecia deslocada.

- Eu verifiquei minha conta e meu e-mail pessoal e nada constava. O que me preocupou foi o que eu ouvi pelo telefone enquanto verificava...

A curiosidade da secretária pareceu aguçar:

- E o que foi?

Allan estava com uma feição extremamente séria.

- Ele não solicitou meus serviços como Allan, mas sim como Eoin. E eu recebi o depósito e o e-mail pelas contas que uso como Eoin e não como Allan...

Aina estava estática. Apenas pessoas do alto escalão do governo tinham conhecimento sobre Allan ser o detetive conhecido como Eoin. Porém, sempre que seus serviços eram solicitados como tal, reuniões secretas em hotéis eram solicitadas anteriormente, assim como a identidade do cliente era informada via e-mail oficial do governo anti-hacker. Era a maneira padrão para se solicitar seus serviços especiais. Desta vez, não só foi ocultada a identidade, mas também não haveria uma reunião.

- Isso significa que não é uma pessoa do governo, Allan?

- Não diretamente.

- O que você quer dizer com ‘não diretamente’? E como ele descobriu? – A secretária não conseguia acreditar na situação.

- A minha preocupação não é bem como ele descobriu.

- Qual seria então? – Aina ficava cada vez mais perdida.

- A minha conta como Eoin no Bankstreet logicamente não consta em meu nome ou no de Eoin... nem ao menos era informada a nenhum dos meus clientes, por mais confiáveis que fossem.

Allan, como Allan, sempre apresentou tanto conta bancária quanto endereço de e-mail comerciais para seus clientes, enquanto as versões pessoais eram informadas apenas para alguns clientes especiais. Já como Eoin, encaminhava apenas as contas comerciais, nunca comentando nada que fizesse menção a alguma conta particular. E continuava seu raciocínio incomodado:

- Eu sempre recebi em dinheiro e nunca fiz depósitos cujo valor fosse idêntico ao recebido, muito menos na mesma época que recebia. Procedimentos que criei para que não houvessem ligações com o nome fictício da conta, eu ou o nome Eion. O que significa que ele descobriu por si próprio não só meu e-mail pessoal como o de Eoin, mas também minha conta bancária com um nome falso para depósitos das quantias recebidas pelo governo.

Aina não sabia mais o que pensar. Allan, porém, continuava seu raciocínio a base de café e cigarro:

- Certamente dois tipos gostariam desse tipo de informação. Bandidos ou clientes particulares. Se criminoso, seria algum integrante de uma grande facção do crime, como a máfia, talvez preocupados com a possibilidade de meus serviços serem contratados para pegá-los... ou alguém interessado em vingança, seja por eu tê-lo pego ou prejudicado algum amigo ou parente dele... algo assim. Se cliente particular, alguém que tem muito dinheiro e precisa dos meus serviços para algo por trás da cortina... e poderia ser algo como seqüestro a partir de modus operandi, por exemplo.

Allan acendia mais um cigarro, clicava em seu mouse e continuava sua análise:

- Mas alcançar uma informação tão sigilosa requer tempo e dinheiro.... há algo mais aqui. Esse tipo de informação só seria conseguido de maneira extremamente complexa. E eu só consigo pensar num jeito de isso ser possível.

- Como seria?

- Influência diplomática. Provavelmente alguém do governo anda ‘mexendo seus pauzinhos’. – O detetive imprimia a folha do e-mail recebido.

- Mas se é do governo, não seria o caso de organizar tudo como sempre? – Aina ainda tinha dúvidas.

- Sim – Allan respondeu enquanto circulava algo na folha impressa –, mas e se fosse o caso de fazê-lo por baixo dos panos, sem que ninguém soubesse?

- E por que alguém o faria? A secretária parecia não vislumbrar uma boa razão, fechando a cara, levantando uma sobrancelha e cruzando os braços e pernas, como que incomodada.

- Agora você chegou onde eu queria, como de costume! – Allan sorriu como se tivesse conduzido a conversa ao seu clímax, entregando a folha para sua secretária.

Aina abriu o olho, impressionada com o que lera.