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Okaeri-nasai! Semanalmente publicado cada capítulo. No lado direito se encontra a relação dos capítulos, lembrando que o da página inicial é o último postado. Be my guest and enjoy it!


E volta à realidade o homem. Nada poderia fazê-lo voltar senão uma simples risada de uma criança. Como que retirado do meio de um insight, parecia impressionado com a alegria saudável daquela garotinha que ria. Voltando a si por completo, fecha os olhos e sorri como se lembrasse de bons momentos, batendo as cinzas de seu cigarro. Dá a última tragada e finalmente se levanta do banco:

- É... deve ser por isso que eu não produzo nada...

E andava sobre a paisagem de concreto, cruzando com pessoas enquanto pensava, como que fugindo de seus problemas:

- Nove da manhã de um sábado. Não um sábado qualquer, porém. Para muitos, hoje é um sábado especial. Sábado é o sétimo dia da semana. E hoje é o sétimo dia da semana, no sétimo dia do sétimo mês do sétimo ano... só faltava ser sete horas também... sete minutos, sete segundos... por qual razão as pessoas se importam tanto com essas trivialidades? Por qual razão isso pode fazer tanta diferença assim na vida das pessoas?

Parou numa padaria. Seu último cigarro acabava enquanto comprava seu novo maço de cigarros e um jornal, ainda divagando. As pessoas ao seu lado se incomodavam com a fumaça, chegando a fazer careta. Ele nem percebeu... ou simplesmente ignorou, ainda pensando:

- Por qual razão o final de semana parece modificar a alma das pessoas? É muito mais fácil ver um sorriso estampado na cara das pessoas num final de semana. Por qual razão tudo muda num feriado? O que motiva as pessoas a simplesmente mudarem seu humor tão repentinamente? Por qual razão assim não o fazem todos os dias?

E finalmente chegava ao prédio. Subindo de elevador, olhava as manchetes principais do jornal que comprara.


Seqüestrador da filha do Embaixador italiano no Brasil encontrado pela polícia local.

Foi informado pelos investigadores, que a contribuição de Eoin, o detetive misterioso, foi fundamental para a solução deste incidente.

(...)

Leia sobre como Eoin ajudou a resolver mais um caso na página Alpha-C.”


- Bom, pelo menos uma notícia boa nesse tal dia de sorte – pensava com um sorriso na cara, já com outro cigarro na boca, embora ainda não o tivesse acendido.

Saindo do elevador, fecha seu jornal e dirige-se à porta. A secretária o atende prontamente, sem nem ao menos o olhar:

- Pra variar atrasado... assim você quebra e eu perco o emprego.

Ao olhá-lo com seus grandes óculos, porém, indaga-o:

- Deus... você é louco ou o quê? Só dois graus aí fora e você não tem um único agasalho?

- Não estou com frio... – retrucou o homem enquanto entrava, tirava o cigarro que desistira de acender da boca e deixava o jornal na mesa da secretária:

- Ai, ai... será que ele já faliu e não tem dinheiro nem ao menos para comprar roupas? – a secretária falava como que para si – Será que recebo meu salário no início do próximo mês?

- Quer parar? Quando foi que eu atrasei seu salário nesse quatro anos, sua enjoada? – O homem só parecia ofendido.

O tom da brincadeira se foi quando interrompido por uma ligação. A secretária atendeu com seu ânimo de sempre:

- Escritório do detetive particular Allan, com quem eu falo por gentileza? E em que posso ajudá-lo? Claro, peço um momento para chamá-lo...

O homem já tinha notado um traço diferente no rosto de sua secretária que não costumava mostrar expressões assim gratuitamente. Ela fez uma menção séria e colocou o telefone no toque de espera:

-... não há número na bina... e ele também não quis se identificar...

O homem não parecia nada satisfeito com a situação, de acordo com seu olhar:

- Ótimo, eu pago uma grana nessa bina especial e ela não funciona logo hoje?

A bina identificava, até então, o número e o proprietário de qualquer linha que entrasse em contato, em alguns segundos disponibilizado até mesmo seu endereço. Foi necessário até mesmo comprar um telefone específico para o relatório das informações. Não era fácil burlar um sistema criptografado como este. Mesmo assim, ao captar que “logo hoje” significava um dia especial de sorte, a mulher achou estranha a reação do chefe que por vezes provara seu ceticismo frente às superstições:

- Passo o anônimo para o senhor?

- Pelo menos sei que é “ele” e “senhor” está no Céu, sua engraçadinha... passe-me o Sr. “Ele” para meu ramal.

Não era uma sala grande e nem portava divisórias. Duas mesas, uma para o detetive e outra para a secretária, cada qual com seu telefone e computador. Um banheiro e uma cozinha pequenos se encontravam aos fundos, lado contrário ao da recepção, que com suas cadeiras confortáveis recebiam os clientes que raramente apareciam. A maioria dos clientes preferia a tecnologia da comunicação em distância, como telefones e e-mails. Mas ainda sim era um bom lugar, dentro da concepção de ambos. O homem sentou-se na cadeira e fez menção de pegar o telefone, enquanto sua secretária transferia a ligação.

- Allan falando. Sim. Primeiramente, preciso de um nome, mesmo que fictício. Sim. O quê?

A expressão na cara do detetive era nova para sua secretária. Em seis anos de trabalho, sendo quatro formais, nunca vira tal semblante em seu rosto antes. Allan pegava agora o computador e rapidamente consultava algo, começando a suar frio logo depois. Quando seu chefe finalmente desligou, a curiosidade de sua secretária a fez perguntar:

- O que houve, Allan? O que foi essa ligação e esta reação sua?

O detetive não a olhou. Pegou o cigarro que não acendera e finalmente o fez:

- Aina, precisarei de um café forte nesta manhã. O que vai acontecer daqui pra frente é bem diferente do que eu estou acostumado...